A crescente intensidade dos deslocamentos da população, seja por condições ambientais, conflitos bélicos, busca de refúgio por razões políticas, étnicas ou religiosas, trabalho ou turismo, aliada à grande dependência econômica e comercial entre países, caracteriza o acelerado processo de globalização da sociedade contemporânea e impacta, significativamente, no risco de transmissão de doenças infecciosas entre as diferentes populações.
A partir do impacto social e econômico das pandemias e epidemias (HIV/AIDS, H1N1, SARS-CoV-1, ZIKA e Ebola, entre outras) vivenciadas ao longo das últimas décadas, autoridades sanitárias aprovaram em 2005 o Código Sanitário Internacional, em vigor desde 2007, do qual o Brasil é signatário. Desde então, vários centros de saúde global se consolidaram, em sua grande maioria nos países de alta renda, apesar da maior carga de doenças transmissíveis estar em países de menor índice de desenvolvimento. O suporte econômico e político a estes centros aumentou, substancialmente, desde 2010. Universidades de diferentes continentes têm se preocupado em consolidar seus núcleos de pesquisa e intervenção nesta área.
A despeito dos esforços na formatação de sistemas globais de vigilância de doenças emergentes, do estabelecimento de um pacto sanitário internacional, desde janeiro de 2020 assistimos à expansão da pandemia do SARS-CoV-2 com decorrente comprometimento social e econômico em todos os países do globo. A principal fonte de patógenos emergentes é zoonótica, decorrente da transmissão entre as demais espécies e humanos. Segue, abaixo, um conjunto de fatores que contribuem para emergência de novos patógenos com potencial de causar epidemias:
- Evolução dos microorganismos
- Fatores ambientais, exposição a fármacos e poluentes que pressionam o processo evolutivo
- Aumento na densidade demográfica
- Aumento na densidade de vetores de insetos/vetor de evolução
- Maior susceptibilidade do hospedeiro: idade, doenças degenerativas e neoplásicas
- Contato próximo a animais em mercados, abates, alimentação
- Crescimento não planejado e ocupação desordenada de espaços urbanos
- Poluição e contaminação ambiental, mudanças climáticas e ambientais
- Globalização da economia e viagens
- Pobreza e iniquidades
O Centro de Saúde Global da Unifesp (CSG-Unifesp) nasce da necessidade de organizar esforços e coordenar diferentes áreas do saber para o combate e/ou a mitigação de novas pandemias com o pressuposto da colaboração, ressaltando a importância de se abordar qualquer aspecto da saúde de maneira multidisciplinar e interdisciplinar, estabelecendo sinergia entre várias áreas do conhecimento em busca do mesmo objetivo: detecção precoce, caracterização e combate a novos patógenos dentro do contexto de saúde única. Canalizando seu potencial para o desenvolvimento de pesquisas translacionais em eixos de convergência que abordem temas de vigilância de novos patógenos, o CSG-Unifesp pretende caracterizar as cadeias de transmissão, descrição da história natural das infecções, desenvolvimento de ferramentas para diagnóstico rápido e desenvolvimento de medidas de prevenção, controle e eliminação, além definir e uniformizar guias de tratamento e estratégias de imunização para os novos patógenos em consonância com as melhores evidências científicas disponíveis.
A Unifesp lança agora um Centro de Saúde Global, cujo conceito e perspectivas de intervenção foram consolidados ao longo de uma série de seminários realizados com a colaboração de diversos núcleos de pesquisas da Unifesp, incluindo profissionais das áreas da saúde, ciências sociais, econômicas e ambientais com foco no controle e prevenção de doenças infecciosas emergentes e reemergentes, tópico a ser abordado de maneira multidisciplinar e interdisciplinar, e sempre considerando as interfaces entre saúde humana, animal e ambiental.
“In order to understand the dynamics of infectious disease outbreaks in humans, we really need to understand the dynamics of the pathogen in nature.”
W. Ryan Easterdaya